domingo, agosto 5

Crítica: Guardiões da Ordem (2010)


“Durante uma ronda noturna que acaba mal, dois policiais ferem com um tiro um jovem drogado (filho de um deputado) que acabara de matar um de seus companheiros. O jovem após sair do coma, acusa-os de abuso policial (estava na sua residência e foi perturbado). Para provarem sua inocência eles resolvem investigar por conta própria quem distribui ou fabrica a droga química responsável pelo descontrole do agressor.” 
A história em si é comum: o surgimento de uma nova droga que aumenta a agressividade, uma batida policial que acaba mal, um mergulho no meio dos narcóticos na demanda de seus criadores e distribuidores. Apesar dessa trama, trata-se de algo ao menos “assistível”. Não se vê aqui o correr desenfreado dos filmes estadunidenses, e quando o mesmo ocorre está dentro de um equilíbrio e lógica. Os personagens também são bem construídos, ainda que muitos sejam desinteressantes. A dupla central é formada por uma policial que esconde sua feminilidade atrás de um uniforme e um policial impulsivo que foi transferido devido sua agressividade. Apesar de suas limitações, quando aquilo que os sustenta (o uniforme) é ameaçado, eles se apegam naquilo que lhe resta de honra e partem para salvá-la. E a forma como realizam isso, no limite entre o certo e o errado, é que nos prende ao filme. O caminho percorrido em busca dessa salvação pode ser o começo da perdição. Eles se percebem como peças de uma engrenagem que os pode descartar para manter a aparência. E ao mergulhar em busca da salvação podem encontrar a perdição.
A mensagem social é colocada de forma sutil por toda a película. Talvez por isso ela surja de maneira mais contundente, distanciada dos clichês habituais. A podridão não se restringe a um grupo social especifico e não está restrita a um espaço determinado. Por todo o lado as drogas se espalham e seus alvos são escolhidos a esmo, ainda que se focalize aqui de preferência, as altas esferas do poder. O diretor arranha rapidamente a superfície de toda a sociedade. A ação dos policiais, feita de forma pouco cuidadosa e mais emocional, resvala pouco em um idealismo. O que se busca aqui é salvar a própria pele. Não se cai na facilidade de se mostrarem seres perfeitos. Quando em um assalto a que foram chamados, um deles não se importou em furtar uma barra de chocolate. Apesar disso o norte moral é encarnado pela personagem de Cecile de France (Meu Coronel) em curto momento. Ela refutou de forma imediata o se usufruir dessa mísera barra. Mas posteriormente ela se cala, quando a hierarquia solicita e se torna posteriormente heroína sem moral.
Esteticamente o filme navega no oceano de uma composição perfeita e fria, distante mesmo de qualquer emoção mais digna. Frio, seco, a música vai da tecno ensurdecedora até o trip-hop mesclando-se com notas agudas que acabam por construir uma urbanidade desumanizada. Parece que nesse mundo criado pelo homem, o mesmo deixou de lado quaisquer resquícios da humanidade que o impulsionava a construir uma civilização. Falta um toque de delicadeza ao filme. Mas isso é uma opção que parece ter sido descartada pela direção. É como se víssemos uma autópsia de um mundo já destruído e clamássemos por um remédio o qual não pareceu preocupar seus produtores. O filme vale, sobretudo para compararmos como o cinema francês trabalha um tema que soa-nos totalmente americano. Vale conhecer.

Avaliação: 5/10.



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