quinta-feira, maio 30

Crítica: Laranja Mecânica (1971)



Por Wendell Marcel

"O filme que criou e estabeleceu uma cultura 
cinematográfica, e definiu a obra-prima de um gênio"

Parece uma espécie de Déjà vu a filosofia que Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) quer contar sobre a violência dos seres humanos. Apesar de ser uma adaptação do livro homônimo de Anthony Burgess (infilmável), foi somente com o filme de Stanley Kubrick, o qual ele adaptou, que o tema ganhou repercussão no mercado cultural. Na época do lançamento a obra assustou distribuidoras, foi proibida de ser exibida em muitos países e foi elogiada pelos críticos, assim como definhada por outros. Kubrick sabia o que estava fazendo quando resolveu dirigir a incrível e difícil literatura de Burgess. O resultado? A obra-prima de um diretor, e uma das maiores obras representativas da cultura cinematográfica.

A questão da violência naturalizada no filme é interpretada tanto de forma social quanto psicológica. Adentra-se na mente do sujeito sociopata, irado com tudo e cínico com as razões que o levam a espancar, estuprar e colidir com as regras sociais. O Alex de Malcolm McDowell é um ser amoral, que não respeita e desconhece as mínimas e convenientes regras da sociedade. Seu personagem é uma disposição para o que seria hoje o tema de intensas e calorosas discussões sobre juventude, violência e quebra de regras morais, sociais e individuais. Por isso o filme é tão utilizado quando o assunto é violência, aprofundando ainda mais a esfera de sua filosofia, o indivíduo criado pelo âmbito influenciável.

Alex é um jovem infrator que sai com sua gangue nas noites para aterrorizar mendigos, estuprar mulheres casadas e espancar seus maridos; nos intervalos dessas orgias sociopatas, o grupo descansa em um bar tomando leite drogado emergindo dos seios de uma boneca metamórfica. Após as atividades, o jovem líder da gangue volta para casa para escutar Beethoven, cuidar de sua cobra de estimação e se deleitar com as mentiras a fim de faltar à escola, enganar o seu guardião criminal e novamente se preparar para novas aventuras sexuais com quaisquer mulheres que ele sentir necessidade de possuir. No caso, duas!

No entanto, em uma dessas aventuras, Alex, traído por seus companheiros da conceitual ultraviolência, é preso numa casa na qual invadiu, e prazerosamente assassina a dona da casa. É pego fugindo pela polícia. Na prisão, converte-se à religião, e transforma-se numa espécie de aprendiz dos bons e respeitosos costumes, pela influência do padre/pastor/bispo (forever) local. Quando tem a oportunidade de participar de um teste que traz de volta os conceitos morais e saúde mental dos pacientes infectados pela doença social da revolta e da "consciência defeituosa" (o Método Ludovico), agarra a chance de se curar e poder sair daquela teia de repressão psicológica. No entanto, o tratamento que ele passa é bem mais violento que qualquer um de seus atos cometidos anteriormente, que o levaram a estar naquela situação. As sequências do "cinema moral" é fantástica, e a proposta de evidenciar essa cura, no "teatro de tentações", é extraordinariamente eficiente no que concerne identificar, através dos significados da pessoa doente, a devolução, ou reestruturação dos seus conceitos como pessoa pronta a residir no meio social.

Claro, tudo torna-se mais interessante vendo essas sequências acima minimamente relatadas. Os diálogos construídos, a destreza dos ângulos (belamente fotografados), os cortes, a trilha e a magnífica interpretação de McDowell são primordiais para sustentar a proposta do filme. Laranja Mecânica como nenhum outro filme, até então deleta a contribuição do homem como o simples e corrigível culpado de seus atos. Declarar a cura  desses indivíduos por um tratamento dão doloroso quanto, é bem amargurante do que aceitar as disposições que assolam a sociedade de crime e porventura o castigo de suas colaborações em dignificar essas relações de culpabilidade. Muitos outros filmes tentam compreender, como este aqui, essas relações entre crime, culpa e cura (A Outra História Americana (1998), Violência Gratuita (1997), Drive (2011) ?, Clube da Luta (1999)), mas nenhum outro é tão poderoso na forma e na classe de refletir o que a sociedade se tornara diante dos olhos dos próprios espectadores (o Outro). Um filme que faz um belo tratamento das falidas instituições da família, da política, da ciência, da religião e do próprio homem corroborado pelos sentimentos e prazeres passageiros. O mesmo prazer que leva à desconstrução de seu próprio Eu.

Nota: 9,0/10,0




Trailer:



Crítica: Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios (2011)



Por Wendell Marcel


"Muita poesia brasileira, pouca gama de significados exteriores"

É difícil escrever sobre uma obra que quer dizer alguma coisa, ainda que em suas entrelinhas. São nos detalhes e nas nuances do roteiro que se encontram as mais deliciosas e penetrantes metáforas que formam o significado artístico de um filme; claro que em alguns casos. Muitas obras mostram apenas o que querem aparentar, sem muitas pretensões filosóficas. Mas definir esse teor de arte em um filme é bem complicado, pois depende de nossa interpretação, como leitor/espectador, entender ou pouco compreender as várias formas de contribuir para a construção conceitual do filme. Com Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios, um meio-termo é interessante.

O meio-termo pois a obra quer dizer muita coisa, mas da forma errada. Por meio de muitos significados escondidos no roteiro, dialogados pelos esforçados atores principais (a Camila Pitanga, o Zé Carlos Machado e o Gustavo Machado) os diretores propõem a categoria de sentir a linguagem que eles dispõem aos espectadores, a fim de gerar um pensamento mais sóbrio sobre a proposta do filme. Essa linguagem é disponibilizada por muita cor, texturas, movimentos, suores e sensualidade. A primeira cena já identifica uma introdução animalesca do enredo, do povo brasileiro e em particular a persona mulher, morena e sensual.

Desse modo, a troca de favores entre um assunto e outro, o longa de Beto Brant e Renato Ciasca promete a composição que envolve religião, política, comportamento, sentidos físicos e por que não, claro, humanos! São três as esferas: o corpo da mulher, o olhar do fotógrafo e a palavra bem-intencionada do pastor. Um triângulo amoroso que relembra toda uma literatura brasileira de sugestivas contemplações do nosso povo, da nossa cultura movida pelo instinto.

Quando Cauby, um fotógrafo andarilho chega à Amazônia ele conhece sua musa inspiradora Lavínia, esposa de Ernani, o pastor da comunidade. O fotógrafo e a musa começam um relacionamento movido a prazer e observação, mais íntimo e artesanal do que com Ernani. Já o pastor é idealizado por Lavínia como um salvador (um flash back movie explica melhor), tendo que se comprometer com ele, mesmo não aparentando agressão psicológica de retribuição dos atos inerentes a ela. A união dos dois é mais envolta de paternalismos, retribuições na verdade. A reviravolta neste enredo central é o que motiva a elaboração de um texto mais experiente e atraente a uma observação mais bem preparada de sustentação de conceitos. Resumindo, parte do primeiro e segundo ato são dispensáveis. Não constroem e não sustentam coisa alguma.

Dando uma leitura mais abstrata dessa forma filosófica dos diretores, Eu Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios está inerte no que seria inconfiável de se analisar, pois é uma interpretação de dois artistas. Querem falar de relações humanas (físicas e psicológicas), de cultura rudimentar e obsoleta (o trio amoroso com suas significâncias sexuais e ideológicas) e do conformismo das pessoas em relação aos estabelecimentos sociais apartidários em sua essência. Colocar-se no lugar de espectador, neste caso, faz pouco sentido. Em seu término, não quer dizer nada, ainda que inicialmente, repletos de espelhos construídos propositalmente ou contra a vontade dos realizadores.

Nota: 5,0/10,0





Trailer:


quarta-feira, maio 29

Notícia: Contratatos Diretores de Piratas do Caribe 5

Piratas do Caribe 5 será dirigido pela dupla de noruegueses Joachim Rønning e Espen Sandberg, que trabalharam no filme Kon-Toki, que foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro no última edição. A dupla deixou a direção de Spectral para trabalhar na franquia. As informações são do The Wrap.

O roteiro vai ficar por conta de Jeff Nathanson, que escreveu Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal e Prenda-Me Se For Capaz.

Com Johnny Depp confirmado (mais uma vez) como Jack Sparrow, a Disney pretende lançar Piratas do Caribe 5 na metade de 2015.

Fonte: Omelete

Crítica: Vive L'Amou (1994)


Por João Inácio

Vive L'Amour (idem, 1994) é o filme que rendeu ao diretor Twain Ming-liang Tsai o Leão de Ouro em Veneza, uma das premiações mais importantes de sua carreira. Drama Bressoinano em que a solidão e falta de comunicação são retratadas com um rigor estético impressionante e pelo virtuosismo, mas que não se resume a isso se aplicando como um luva ao filme, e criando uma beleza ímpar.

Assim como o diretor francês Robert Bresson, Tsai reduz os diálogos e a trama ao mínimo e tem uma queda por tomadas longas e elaboradas. Mas longe de ser apenas um emulador do estilo de outro cineasta; aqui a forma escolhida pelo diretor é a mais adequada para imergir o espectador no universo de seus personagens, o ritmo lento e as elipses não estão lá por um mero capricho estético mas porque esse parece ser o ritmo da vida e das emoções e o diretor quer que compartilhemos desses atributos, e abraçar o universo dos personagens, essencial para o sucesso do filme, já que o diretor não exita em mostra os hábitos mais pessoais e íntimos deles, sempre de maneira carinhosa.

É notável que Tsai faz questão de colocar seus personagens nas margens dos quadros, destacando assim a solidão desses, mas é grandioso também que diferente de Bresson, o filme se diferencia pela presença de um humor sutil mais preciso, fazendo com que ganhe um dimensão mais balanceada entre o pessimismo e a esperança. Ao filmar um suicídio de um personagem, o diretor mantém a câmera afastada  e o silêncio enquanto observamos esse tentar e hesitar diversas vezes  dando a cena um tom cômico e ao mesmo tempo melancólico. A câmera só se aproxima quando o personagem decide e faz isso em um corte abrupto, o silêncio é interrompido pelo som das batidas de um coração.  

Essa presença de humor sutil ainda é responsável por diferenciar o cinema do Ming-liang Tsai de outro diretor asiático com estilo próximo ao dele, Kar Wai Wong, ainda que esse tenha um gosto pelo melodrama, e notável que ambos têm em comum um sabor por retratar o sentimento de seus personagens através do modo impressionista que reflete muito na direção de arte e na fotografia de seus filmes. Em Vive L'Amour o estado emocional do trio principal esta refletido na tela, nas cores sóbrias e nos espaços filmados pelo diretor.

Nota: 10,0/10,0

Trailer:


segunda-feira, maio 27

Crítica: Twixt (2011)



Por João Inácio

Twixt é um filme estranho, dirigido por ninguém menos que o veterano, adorado pela maioria absoluta dos cinéfilos, Francis Ford Coppola. O filme sofreu varias críticas sendo apontado por muitos como o mais fraco de sua carreira.

Focando sua estória em um escritor em crise (Val Kilmer), chega a um pequeno povoado e se vê envolvido no misterioso assassinato de uma jovem, e vai se envolvendo em uma trama de investigação que muito tem haver com sua literatura e a de Edgar Alan Poe. O primeiro elemento que salta e se destaca na tela é  o desleixo técnico mas talvez o que o filme tem de mais interessante venha desse fator, com uma direção de arte limitada, enquadramentos duvidosos e split-screens malfeitos sempre que surge  um personagem vai falar ao telefone. Existem aqueles que acreditam que o diretor simplesmente desaprendeu como dirigir um filme, sendo isso verdade ou não, o que importa é que o filme tem de mais legítimo vem desse fator, criando um atmosfera de filme B vagabundo que beneficia muito a estória que esta sendo contada; a técnica rudimentar ainda rende uma contradição interessante quando comparamos esse com os filmes mais recentes de um outro diretor veterano da mesma geração de Coppola: Martin Scorsese, o diretor de Taxi Driver (idem, 1976) em seus filme mais recentes vem empregado um aspecto técnico tão castos que beiram um virtuosismo barroco que serve mais para impressionar facilmente do que para acrescentar algo ao filme. Por esse óptica, Twixt me parece bem mais honesto que os últimos filmes do Scorsa.

Falando em Scorsese, é notável que Twixt tem muito em comum com Ilha do Medo (Shutter Island, 2010), tirando a já citada técnica exagerada, a principal força motriz de Ilha são os ecos dos filmes Polícias B década de 40 e 50 que o filme chupava. Em Twixt, Coppola tenta tirar a força de seu filme de referências a literatura de Edgar Allan Poe, mas onde Scorsese foi bem sucedido FFC não consegue ter o mesmo êxito, já que Twixt nunca ultrapassa a homenagens, ainda que digna e interessante, a Poe, o filme depende da força da literatura e das influências literárias para que tenha vida. Sua vitalidade depende da obra de outro.

Outro fator que pesa para que julguemos Twixt como um filme estranho é a escolha do ator Val Kilmer como protagonista. Carismático, mas limitado como intérprete, Kilmer esbanja canastrice, algo que gera um saldo nas cenas cômicas onde o filme apela para o humor negro e que ressalta o fato do filme não levar a sério, mas compromete totalmente a parte dramática do filme, tirando qualquer impacto que essa possa ter. Parece que Coppola acredita mesmo na força da sub-trama do personagem de Kilmer e sua esposa, mas essa é provavelmente a parte menos interessante do filme.

No fim parece que as maiores qualidades da película são as curiosidades. Twixt pode não ser um filme ruim, mas não é exatamente bom.

Nota: 6,0/10,0

Trailer:


domingo, maio 26

Notícia: Os Vencedores do Festival de Cannes

Palma de Ouro foi para La vie D'Adele
Hoje terminou a edição 2013 do Festival de Cannes e os prêmios foram anunciados hoje na França. O júri foi presidido por Steven Spielberg.

A Palma de Ouro acabou indo para La vie D'Adele, drama com Léa Seydoux e dirigido por Abdellatif Kechiche que fala sobre uma menina de 15 anos que se vê apaixonada por outra. Inside Llewyn Davis, dos Irmãos Coen, que causou alvoroço e chegou a ser cogitado como favorito para o prêmio máximo, levou o Grand Prix.

Amat Escalante levou o prêmio de melhor diretor por seu trabalho em Heli; Bruce Dern levou o prêmio de melhor ator por Nebraska, de Alexander Payne; e Bérénice Bejo ganhou o de melhor atriz por Lé Passé, de Asghar Farhardi (A Separação). Melhor roteiro foi para Jia Zhangke por A Touch of A Sin.

Outro filme que era favorito para a Palma de Ouro, o longa japonês Like Father, Like Son, dirigido por Hirokazu Kore-Eda levou o Prêmio do Júri.

Crítica: O Maior Espetáculo da Terra (1952)


Por Wendell Marcel


"A magia do picadeiro mostrada pelas mãos de um espetaculoso cineasta".


Conhecido por seus filmes épicos e religiosos, Cecil B. DeMille (The Ten Commandments, 1956 e Samson and Dalilah, 1949) convidou os espectadores para conhecer o mundo do circo. Mostrando não só a magia e os espetáculos diários que o mundo circense oferece às crianças e adultos, o longa de 2h 30min quer mostrar também a face dramática das relações entre os profissionais que fazem tudo acontecer, as dificuldades que cercam levantar uma lona gigantesca, mas para toda uma cultura de pessoas que vivem e sobrevivem de seus números e de suas fantasias. Um outro mundo; vários mundos como DeMille quer mostrar.

Dois mundos por que em O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show on Earth)  os palhaços, os trapezistas e as 1.300 pessoas que fazem o espetáculo se vestem não só com fantasias, mas com uma realidade só deles, que ninguém pode tirar. Acontece da seguinte forma: Brad (Charlton Heston) é o cara que comanda o circo (do título); ele enamora Holly (Betty Hutton), a trapezista que desde pequena sonha em ter o picadeiro central, mas que lhe é roubado por Sebastian (Cornel Wilde), um dos famosos e cínicos trapezistas, contratado para o circo. Claro, Sebastian não sabe que tomou o picadeiro central de Holly, e começa a paquerá-la, conquistando o seu coração. Nesse meio tempo, "O maior espetáculo da terra" finca a sua lona em diversos locais do país, alegrando as crianças e apaixonando o público com toda a magia do circo.

O filme concentra parte do enredo nos problemas que cercam a administração do espetáculo. A corrupção que alguns empresários querem pôr sobre Brad, o qual expulsa-os das redondezas do circo, para não "infectarem os outros, como uma maça podre". A traição de um dos domadores dos elefantes, querendo vingança pela traição de sua namorada, a Angel, apaixonada por Brad. As dificuldades econômicas, estruturais e normais que qualquer empresa com 1.300 participantes têm. No fim da temporada dos espetáculos, todo o circo levanta acampamento da cidade e recomeça a odisseia atrás de outras localidades. 

Visivelmente o filme é grandioso: a direção de arte bem trabalhada, a trilha sonora divertida, a produção impecável e a fotografia belíssima. A montagem, contudo, poderia ter deixado de fora cenas inúteis, tirando assim 30min desnecessários da película final. Ainda que os figurantes não colaborem tanto (durante o espetáculo, podemos ver alguns atores nem mesmo prestando atenção no que está sendo encenado no picadeiro; nem ri, nem choram), a história em si e a forma como é levada é muito interessante. DeMille não cria, apenas apresenta. Por isso o conservadorismo de filmar do diretor poderá incomodar alguns espectadores, esperando movimentos de câmera espetaculares e ângulos inovadores. 

Um dos personagens que aparecem e de repente somem de uma hora pra outra nas cenas é o de Buttons (James Stewart), o palhaço. Estranhamente, ele matou a própria namorada e fugiu para o circo, afim  de se esconder da polícia. No entanto, sua ligação com os enredos principais ou com a possibilidade de criar um secundário, não dá em nada. Ele, no fim, na sequência final do filme, não significa muita coisa e o clímax premeditado antes, não tem importância quanto a reviravolta do circo.

O perfil mais interessante é o de Brad. Másculo, controlador, disciplinador, mas mesmo assim gentil e boa-pessoa, é um dos poucos personagens que tem presença em cena. Diferente da interesseira e antipática Holly, que vai de um namorico para outro, tornando-se instável, e não no bom sentido. Sebastian é um personagem insosso, ainda que tenha sido escrito para parecer (ou aparentar) diferente disso. Definitivamente, O Maior Espetáculo da Terra não foi feito para levantar grandes discussões sobre as atuações dos atores. Alguns críticos dizem ser o pior vencedor do Oscar de todos os tempos. Eu não vou tão longe assim, vide o mais-que-recente Crash - No Limite (Crash, 2004) e O Discurso do Rei (The King's Speech, 2010).

O bom e mais espetacular dos lindos e coloridos quadros nessa obra gigantesca e proporcionais a um grande diretor, é não ser cansativa, como muitos predizem. Afinal, é um espetáculo. Aliás, é um documento histórico dos circos, que antigamente traziam mais alegria às pessoas. Vai ver toda essa emoção tenha influenciado criativamente um dos maiores diretores da atualidade, Steven Spielberg, sendo esse o primeiro filme que ele viu nos cinemas.

Nota: 7.0/10.0





sábado, maio 25

9 filmes selecionados: Dia do Orgulho Nerd

Por Maurício Owada

Hoje é dia 25 de Maio, conhecido como o Dia do Orgulho Nerd, e para os mais "experts", o Dia da Toalha. De qualquer modo, todos aqueles que curtem uma boa estória de ficção-científica, fantasia e terror, estão celebrando este dia especial e relembram de obras que habitam o imaginário dos nerds, alimentado pela literatura, HQs, televisão e claro, o cinema.

Desse modo, fizemos uma lista dos filmes, não necessariamente melhores, mas "obrigatórios" e que introduzem o espectador a um universo à parte e que muitas vezes nos trazem grandes conhecimentos para uma vida toda:

Atire sempre na cabeça de um zumbi para matá-lo!
Não dê comida ao um mogwai depois da meia-noite!
"Tentar não! Faça, ou então não faça!" - Mestre Yoda
"A lógica é apenas o princípio da sabedoria, não o seu fim." - Sr. Spock 





9. A Noite dos Mortos-Vivos, de George A. Romero (1968)



8. Metropolis, de Fritz Lang (1927)



7. Gremlins, de Joe Dante (1984)



6. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, de Alfonso Cuáron (2004)



5. De Volta Para o Futuro, de Robert Zemeckis (1985)



4. Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, de Nicholas Meyer (1982)



3. O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, de Peter Jackson (2003)



2. Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança, de George Lucas (1977)



1. 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick (1968)

Seu filme favorito não está aqui? O que você achou da lista? Comente aqui embaixo, curta e compartilhe!! 

Que a Força esteja com vocês, vida longa e próspera e um Feliz Dia do Orgulho Nerd a todos vocês!!!

sexta-feira, maio 24

Sessão Curta+: Dirty Laundry (2012)



Filme: Dirty Laundry
Direção: Phil Joanou
Roteiro: Chad St. John
Gênero: Animação/Drama
Origem: Estados Unidos
Duração: 10 minutos
Sipnose: Thomas Jane, ator que viveu o Justiceiro em 2004, volta como o personagem em um filme não-oficial. Estrelando também Ron Perlman, a questão que Frank Castle deixa no final é: qual a diferença entre justiça e punição?

*Dica: aperta no item da lateral do vídeo para expandir a imagem.

Filme:


quinta-feira, maio 23

Crítica: Os Sonhadores (2003)



Por Wendell Marcel


"A revolução, o medo, o delírio e a obra de Bertolucci"

Quando Bernardo Bertolucci (O Último Tango em Paris) começou a filmar Os Sonhadores, de primeira linha, no primeiro ato, e não apenas em sua introdução dos créditos iniciais, a certeza era absoluta: esse é um filme para se deliciar. E não foi por menos. Existe aqui uma instigante e sexy homenagem ao cinema, à forma de se fazer arte e como se debruçar em metáforas compostas da máxima competência que esta sétima propõe aos leitores/espectadores. Quem tentar compreender um dos melhores e mais deliciosos filmes de Bertolucci como apenas amostragens poéticas sexuais, está enganado até a segunda ordem.

Matthew é um estudante americano que está alocado na Paris de 1968. Ano de muitas manifestações no cinema, ele conhece dois irmãos franceses (gêmeos, segundo eles) e os três começam a viver experiências sexuais visivelmente eróticas entre eles. De imediato vem o pensamento de incesto, libidinosas práticas, homossexualidade. No entanto, mais do que isso, e, além disso, vale frisar, a poética desses acontecimentos é somente um plano secundário para o que o autor quer insinuar, mas não respondendo, a seus leitores. Com Theo e Isabelle, o estudante é recebido numa nova atmosfera de desejos e concepções sobre o prazer do descobrimento, deixando para trás, por um momento, suas antigas e conservadoras inquietações.

Dentre os três personagens centrais, Isabelle é a mais interessante. Quando apresentada ao espectador, é tão reveladora e complexa quanto os dois rapazes. Complexidade essa maximizada nos atos seguintes, reportando aos que assistem dúvidas sobre sua consciência frágil e doce, a sóbria e por vezes patológica sonhadora condição psicológica. Doçura e devaneio. Já Theo é um bom traço de política no texto, discutindo com Matthew sobre as incapacidades e congruências de se lutar contra a repressão, munido pela violência e pelas ideologias destronadas pelos regimes da França dos anos 60. A década das revoluções culturais, da nova música, do cinema de autor, da sexualidade e do grito do povo. 

Assistir a Os Sonhadores é aprender mais e mais sobre cinema. Ser um passageiro no navio de emoções e prazeres do diretor italiano que viaja com sua câmera com os suaves planos-sequência, pelos quartos e corredores da bela casa desenhada como um espaço que respira desejo e contradições. Nesse ambiente, o trio de amigos que inicialmente experimentaram uma nova forma de conhecer um ao outro, evolui para o que se poderia chamar de "triângulo amoroso contemplativo". Eles chegam a um nível tão íntimo (cenas como a da masturbação frente a uma foto de Marlene Dietrich; quando Matthew e Isabelle fazem amor diante de Theo; ou quando correm nos corredores do Museu do Louvre, fazendo uma bela referência a Band à Part, e aceitando o estudante americano como um deles) que sofrem as consequências de se dar abertura ao outro, revelando aos seus o lado mais profundo e enigmático de cada um. 

Mesmo assim, ainda que mergulhados (literalmente, a cena da banheira, belíssima!) um dentro da mente do outro, como indivíduos simbióticos, os três se tornam dois. Theo e Isabelle são únicos: são apenas o Um, e não há nada que os faça separar. Enquanto que Matthew é apenas um secundário, sem nenhuma interferência significativa neles.

Bernardo Bertolucci não quer provar nada, apenas insistir que o leitor desenvolva suas próprias interpretações dos personagens, das proposições sobre política, poder e cultura. As cenas não contem nenhum pudor: vaginas e pênis são mostrados livremente, a fim de desnudar a sociedade de seus preceitos entendidos como corretos, mesmo diante de tanta corrupção e a doença da igualdade de direitos entre os indivíduos que a compõe. Muita música, muito sexo, e muita filosofia para apresentar outro lado do prazer, dos desejos e do saber sonhar com algo, mesmo que vá contra um amigo ou contra uma nação; neste último caso, complacente com a situação, acredita Theo. 

Nota: 8.5/10




Trailer:

quarta-feira, maio 22

Crítica: A Caça (2012)


Por Wendell Marcel


"Mais próximo do conceito Dogma 95"

Diferente do que o filme Dúvida (Doubt, 2008) fala aos espectadores, pondo em questão um problema que parece não ter solução, o novo e último filme de Thomas Vinterberg é algo muito além disso, pois a todo momento o público sabe de toda a história. O segredo aqui é conseguir continuar a assistir as cenas de violência que um homem inocente passa a sofrer por toda a comunidade, onde ele nasceu e tem seus melhores amigos. 

Lucas trabalha em uma escola infantil, e acabou de se divorciar da esposa que tem dificultado o encontro dele com seu filho, o Marcus. Uma das crianças da escola infantil sente muito carinho por Lucas, já que seus pais em casa vivem discutindo e não dão tanta atenção à filha. Ela entrega um coração para o bom homem, dando-lhe um beijo na boca; com bom senso, ele explica o por quê dela não fazer isso, mostrando à garotinha pra quem deve demonstrar o seu carinho. Ela fica chateada e começa a inventar histórias que não existiram para a diretora, gerando uma pulga atrás da orelha na professora. A partir daí, Lucas é acusado de abusar sexualmente da garota (filha de seu melhor amigo) e de mais alguns alunos. O mundo desse homem muda totalmente.

Sim, a única certeza que temos, o que já é necessário para agarrar com unhas e dentes em defesa do personagem, é que ele é inocente. Toda a situação foi inventada pela garotinha, a Klara. No entanto, todos os pais, professores e conhecidos compram a ideia de forma tão absurda e violenta que toda a comunidade se volta contra a única pessoa que não é ouvida: Lucas. Apenas seu filho e um amigo acreditam nele. A vítima neste caso não são as crianças, mas o adulto, mesmo que conhecido por todos e aparentemente boa pessoa, é indiscutivelmente acusado sem nenhuma prova. 

Por Lucas ser excluído das atividades sociais da comunidade (como reuniões, festas, mercados e encontros), agredido algumas vezes pelos próprios amigos de infância e enojado por todos eles, a impossibilidade desse homem reverter todas as acusações são mínimas. Novamente, Lucas é um ser humano bom. Por isso que o espectador vai sofrer junto com ele. 

O que vai de encontro com a obra citada mais acima, é que A Caça (Jagten) estuda com profundidade as consequências de um pré-julgamento. Mesmo o acusado sendo um conhecido antigo. Ainda que exista em meio a tudo isso a defesa e proteção que os pais das crianças queiram tutelar em seus filhos, a tamanha agressividade dos atos deles impedem as explicações de Lucas, e dessa forma, as histórias vão se contorcendo, sendo mudadas; de uma simples e inocente mentira (ou vingança de uma criança), um homem é desmoralizado contra tudo que ele construiu. Um ato (mesmo que falso) pode acabar com as forças de um ser humano bom, arruinado perante seu filho e mutilado pelos amigos.

Filmado com destreza por um dos fundadores do conceito Dogma 95 de cinema (juntamente com Lars von Trier), a película não trás um novo tema, mas renova a forma de contá-lo. O ator Mads Mikkelsen venceu o prêmio de Cannes por sua extraordinária atuação no longa, mostrando ser capaz enfrentar os inimigos acusatórios de frente, olho-no-olho, mas não dente-por-dente. As armas que Lucas utiliza para se defender contra os seus, é sua própria moral, sendo imposta ao teste mais deturpador que o ser humano pode criar: a mentira. Em razão disso, surge o medo, como uma condição fantasmagórica que sempre poderá assombrar as vítimas da mesma. A última cena retoma este conceito. 

Nota: 9/10



Trailer:

terça-feira, maio 21

Notícia: Novo Trailer de O Homem de Aço


O filme do Superman dirigido por Zack Snyder ganhou um novo trailer que traz trechos de cenas inéditas.

Confira:


Produzido pela Syncopy (produtora de Christopher Nolan), O Homem de Aço estreará em 12 de Julho no Brasil.

Notícia: Produtora fala sobre Nymphomaniac

A produtora Louise Vesth falou ao Hollywood Reporter sobre o filme erótico de Lars Von Trier.

Vesth comentou sobre as cenas de sexo pesadas e confirmou que os atores não participaram de nenhuma cena explícita. "Acima da cintura serão os atores e abaixo serão os dublês", falou a produtora, complementando que Lars usou tecnologia digital para sobrepor as cenas com os atores com as de dublês.

Por isso, o trabalho de pós-produção foi tão intenso, o que fez com que não fosse concluído a tempo para o Festival de Cannes. A produtora falou mais sobre Nymphomaniac, dizendo que terá um uso experimental de elementos gráficos e que temas como religião e filosofia serão abordados, indo além do sexo.

Concebido em oito capítulos (e dividido em dois longas), o filme contará a jornada erótica de uma mulher, ninfomaníaca auto-diagnosticada, desde seu nascimento até os 50 anos, interpretada por Charlotte Gainsbourg e Stacy Martin, respectivamente na fase adulta e adolescente.

Nymphomaniac tem estreia marcada para 25 de Dezembro na Dinamarca e o trailer deve ser divulgado no final deste mês.

Fonte: Omelete

Crítica: Depois de Lucía (2012)


Por Wendell Marcel

"O teor cru e os ângulos que incomodam".

Alejandra e seu pai se mudam para outra cidade a fim de retomarem suas vidas após a morte de sua mãe, a Lúcia do título. Abalados, confinam seus sentimentos neles próprios, levando suas vidas a poucos diálogos. Alê se mostra madura e social entre os amigos da nova escola; enquanto que o pai dela, não se dá tão bem no novo emprego de chef de cozinha. No entanto, depois de ter cometido um ato impensado, Alê começa a sofrer bullying dos seus antigos colegas, resguardando esse sofrimento para si mesma, e assim não se mostrar emocionalmente frágil para o seu pai. 

No que concerne a obra-prima (isto mesmo!) de Michel Franco é sua intensa crueza de narrativa e como foi filmada. Quase inexistem movimentos de câmera, e a trilha sonora é sentida apenas pelas simbioses entre os ruídos claustrofóbicos dos ambientes. Depois disso, são os atores. Tessa La, que interpreta Alejandra está excelente, natural e transparecendo uma realidade tão clara como ela realmente se torna a ser. Em suma, o trabalho de elenco está ótimo. 

Agora partimos para o trabalho da história. Não se pode falar em momento algum de sadismo, mesmo que Alê esteja sendo violentada (algumas cenas são tão reais), e mantendo-se calada, ela não reporta em nenhum momento, para nenhuma pessoa, o que lhe está acontecendo, o que a torna vítima psicológica do fato. Ela prefere manter-se inerte nas agressões que a comete. Assim, quem sabe, possam ser minimizadas. Essas agressões os leitores terão que ler/assistir ao filme, e interpretar da forma que quiserem. O corpo da personagem é o que menos é violentado; mas sua mente sofre brutais murros, espancamentos e violações. 

Mesmo que contenha o teor alerta-social, a obra de Franco vai muito além disso. Ele fala de grupos, onde criam suas próprias regras, estabelecem os limites e sabem propor soluções a favor de suas ações. O exemplo dos colegas que agridem Alê na viajem da escola, e ficam desesperados quando ela desaparece no mar. Quando o diretor filma seus ângulos quietos, observando seus personagens, as situações, inferindo no espectador um sujeito que precisa conhecer além das aparências, com o propósito de torná-lo parte daquilo, mesmo que onipresente, todavia onisciente. E não ser onisciente é a grande ferramenta aqui.

Ver todo o drama da garota e não saber o que ela pensa, como se esconder de tudo aquilo, é impensável. Como que todos os sujeitos da escola fossem monstros prontos a violá-la. Assim, o autor cria o que seria, literalmente, o verdadeiro ambiente da vida, com seus embutidos significados. Como desvendá-los? Os seus colegas de escola são transfigurados ao ponto de se tornarem hienas, esperando as sobras de um animal. Alê, nesse caso, é apenas um pretexto para os indivíduos extravasarem suas doentias práticas, de perturbação e rejeição. Alguns só são transformados se todos também o fizerem: eu a deturpo por que todos o fazem.

Entender a profundidade insalubre de Depois de Lucía é mergulhar na realidade, sem volta e sem descanso para a mente que depois da sessão começa a incomodar e martelar. Se tudo isso não acontecer, amigo leitor, não se preocupe, pois as várias simbologias do filme ainda podem te angariar nos repletos insultos que os quadros insurgem contra as instituições sociais falidas. São os comportamentos os mais venenosos contra as atitudes violentas das pessoas. O terceiro ato do longa é arrebatador, assim como seu desfecho. Cenas que se ligam de forma magnífica.

Nota: 9/10







Trailer:


sábado, maio 18

9 filmes selecionados : sobre a Cor Vermelha do Sangue

Por Wendell Marcel

Pode ser muito violento, com lutas e xarope vermelho; às vezes é usado como metáfora da vida ou da morte: o sangue no cinema pode significar várias coisas, usado de forma metafórica e com sentido figurado.

Fizemos uma lista com 9 filmes que utilizam o sangue, ou na tonalidade do vermelho expresso tanto da paixão das personagens quanto na dor das passagens da vida de cada um deles. O vermelho da vida,  a cor da morte. 

O vermelho da vingança, da loucura, das emoções e da dor. Para muitos, o maior símbolo do que significa o ser humano, o interior de cada um, indiferente e diferente. 




9. Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman (1972)



8. Perfume - A História de um Assassino, de Tom Tykwer (2006)



7. O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme (1991)



6. O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho (2012)



5. O Violino Vermelho, de François Girard (1998)



4. Ran, de Akira Kurosawa (1985)



3. Carrie - A Estranha, de Brian De Palma (1976)



2. O Iluminado, de Stanley Kubrick (1980)



1. Kill Bill - Volume 1 e Volume 2, de Quentin Tarantino (2003 e 2004)



E aí cinéfilos, lembram de mais filmes que falam do vermelho ?