segunda-feira, dezembro 16

Crítica: Capitão Phillips (2013)


Por Maurício Owada

"O olhar imparcial de Greengrass"

O diretor Paul Greengrass é um diretor que já abordou diversos filmes baseados em história real, desde o seu premiado Domingo Sangrento (Bloody Sunday, 2002) até o trabalho que o lançou em Hollywood: Voo United 93 (United 93, 2006). Após dirigir dois filmes da trilogia Bourne e Zona Verde (Green Zone, 2010), todos com o ator Matt Damon, o cineasta conhecido pelo seu estilo de filmagem trêmulo, com a câmera na mão e que joga o espectador dentro da ação do filme, trás um dos melhores filmes dentro do circuito americano. Capitão Phillips (Captan Phillips) é o quarto filme do diretor baseado em fatos reais, desta vez é o sequestro de um navio mercante comandado pelo personagem-título, interpretado por Tom Hanks, por piratas da Somália.

O fato ocorreu em 2009 e mostra um capitão que acaba ficando nas mãos de seus sequestradores somalis e através de um roteiro que preza a ação, ainda assim sua estrutura é muito parecida com Domingo Sangrento, aonde há toda a preparação dos eventos que ocorrerão, seja Phillips fazendo as malas em casa e iniciando os procedimentos com sua tripulação ou Muse (Barkhad Abdi) subindo em barcos de pescador e motores não muito potentes para roubar grandes barcos. A partir dessa introdução, o filme explicita as situações distintas aonde cada um vive, além da diferença daquilo que lhes é proporcionado. Aliás, proporção é algo que fica perceptível em toda a obra, gerando ao espectador uma reflexão importante sobre os dois personagens, que seria errado julgá-los como mocinho e vilão.

Contando com atuações e uma câmera trêmula que nos coloca dentro da situação como fizéssemos parte e que realça uma naturalidade da história, sem transformá-la essencialmente em algo espetacular, mas real para que entendamos o que se passa não só na tela, mas em alguma parte do mundo e que não estamos distantes disso, e é isso que faz parte do realismo de Greengrass.

Tom Hanks está em uma de suas melhores atuações, como não se via a um bom tempo, mostrando que apenas o que faltava em sua carreira era um projeto conciso que aproveitasse de seu potencial e ele consegue juntar o seu carisma habitual (mesmo que seja em um papel mais sisudo) com uma maturidade que fez bem pro seu estilo de atuar, assim como Barkhad Abdi, que surge como uma surpresa, em uma atuação que é valorizada não só pelo espaço de tempo que lhe é cedido no longa, mas como também o seu desenvolvimento e uma abordagem que foge de uma "vilanização" que apenas atenuaria preconceitos, assim como acontece com personagens muçulmanos em filmes de ação.

Capitão Phillips é um filme que se equilibra entre seus personagens pela humanização dos mesmos: Phillips demonstra momentos de fragilidade e medo mesmo sendo um capitão, assim como os somalis intepretados por Abdi e também por Barkhad Abdirahman, Faysal Ahmed e Mahat M. Ali, são homens que precisam roubar um navio por dia, intimadados por senhores da guerra de seu país, aonde a política está muito longe da igualdade e da dignidade que nós ocidentais dispomos, muito bem ilustrado no diálogo aonde Phillips pergunta se não há outra maneira de ganhar dinheiro e fazer a vida além de sequestros e pirataria e o líder dos piratas somali apenas responde: "Talvez na América. Talvez na América."

Nota: 8,5/10,0




Trailer:

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