quinta-feira, dezembro 19

Crítica: Um Estranho no Lago (2013)


Por Maurício Owada

"Um interessante olhar sobre as relações, o amor, o sexo, a solidão
e os desejos"

Colocado como o melhor filme de 2013 pela revista Cahiers du Cinema (aonde trabalhavam cineastas como François Truffaut na função de críticos), Um Estranho no Lago (L'inconnu du Lac) é uma obra que reflete sobre as relações e os riscos que vem com elas. Na trama, Franck (Pierre Deladonchamps) é um jovem que vai todo dia num lago rodeado por um bosque, aonde homens vão para 'caçar' outros, em busca de sexo. Enquanto aproveitava a água do lago, Franck se depara com um homem solitário, Henri (Patrick d'Assunçao) num recanto do lago e vai conversar, se tornando apenas amigos e conhece também Michel (Christophe Paou), um homem misterioso por qual Franck se apaixona e inicia uma relação, mal sabendo que ele é um homem perigoso.

Utilizando de uma câmera praticamente estática, o diretor Alain Guiraudie, mesmo que lide com uma história de grandes consequências, opta por um olhar contemplativo, seja sobre o cenário natural do bosque e do lago, seja pela nudez do homem (não deixando de fora até seus genitais) e as cenas de sexo de Franck com outros homens trazem uma naturalização que ao olhar do espectador, pode incomodar a muitos, mas deixa claro que o homem pode sim encontrar prazer no corpo de outro homem e para um público que ainda tenha certos tabus não admitidos em sua cabeça, pode ser difícil, mas é de se reconhecer tamanha coragem, seja do diretor ou dos atores.

Se na questão imagética, o filme trás uma certa poesia em seus closes de corpos se encontrando e se ofegando no puro prazer do corpo e também, um suspense que se abdica de qualquer trilha musical, porque não é preciso entender a gravidade de uma cena ou sua dramaticidade, pois a abordagem do diretor tem uma pegada mais natural e nem tanto teatral, e o que sobra é a excelente captação de som, que atenua toda a natureza por qual os personagens são rodeados, a narrativa é sutil, tem ótimo diálogos (que preza o minimalismo para compor seus personagens) e constrói a história de modo que as coisas ficam cada vez mais tensas ao longo da obra.

Contando com atores competentes, que senão são homossexuais, já que o teor de muitas cenas de relação sexual é explicita, não poupando o close de um sexo oral ou o sêmen espirrando (já deixei claro acima que o filme não é para todos os espectadores), demonstra então uma coragem que se encontra apenas naqueles comprometidos com a obra audio-visual. Apesar de ser um filme que nos passa uma reflexão das relações em que nos jogamos ou da solidão que nos afundamos às vezes, representada em Henri, e nesse jogo de implícito e explícito do diretor, Alain constrói um olhar interessante sobre os desejos.

Nota: 8,0/10,0




Trailer:

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