sexta-feira, fevereiro 28

Sessão Curta+: On Your Mark (1995)


Filme: On Your Mark 
Direção: Hayao Miyazaki
RoteiroHayao Miyazaki
Gênero: Animação/Ficção-Científica/Fantasia
Origem: Japão
Duração: 7 minutos
Sipnose: Um videoclipe feito para a música homônima do grupo JPop Chage & Aska. Ambientado num futuro distópico, dois policiais resgatam uma garota com asas de anjo, que é levada pelo governo e eles a ajudam a escapar e ser livre.

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Filme:

terça-feira, fevereiro 25

Crítica: Clube de Compra Dallas (2013)


Por Kaio Feliphe

"Como uma doença terminal deixa um homem
mais humano."

A homossexualidade vem se tornando um assunto forte na sociedade desde meados da década de 1980, muito devido a ícones da cultura popular que, declaradamente, possuíam relações com pessoas do mesmo sexo (como Freddie Mercury, no meio internacional, e Cazuza e Renato Russo, aqui no Brasil). E um dos assuntos mais recorrentes nesse meio era (e é) a AIDS, que, na época, era associada exclusivamente a homossexuais e usuários de drogas injetáveis.

É com essa base que o diretor canadense Jean-Marc Vallée sustenta Clube de Compra Dallas [Dallas Buyers Club, 2013]. No centro da narrativa está Ron Woodroof (Matthew McConaughey), um eletricista texano que, na ignorância homofóbica que reinava na época, curtia a vida usando drogas e tendo relações sexuais de maneira desprotegida com várias mulheres, sem nem cogitar a ideia de contrair o vírus HIV . Só que, ao ser diagnosticado como soropositivo, sua concepção sobre o assunto muda inteiramente.

Vallée acompanha a metamorfose ideológica de Ron de uma maneira interessante. A partir do diagnóstico médico de que Ron tem apenas 30 dias de vida, o diretor guia o espectador pelo tempo através de uma contagem regressiva para o que seria o fatídico dia do protagonista. Mas, mais adiante no filme, Vallée usa esse artifício como uma “vitória” do personagem, já que o prognóstico não se cumpre. E essa “vitória” tem como ícone o clube que dá título à obra. O Clube de Compra Dallas é um lugar onde pessoas portadoras do vírus da AIDS podem se associar e, assim, conseguir medicamentos alternativos aos mais convencionais, que causavam efeitos colaterais bastante graves. E é graças ao clube e seus remédios que Ron continuava vivo.

Dali em diante, Clube de Compra Dallas ganha um tom de filme-denúncia, principalmente contra as grandes empresas farmacêuticas da época. Mas o grande cerne do filme é a redenção de Ron Woodroof e a sua busca por sobrevivência. O cowboy que tinha aversão a homossexuais no início da história se torna gradativamente um ícone na luta contra a AIDS e o preconceito, combatendo de maneira firme as grandes empresas de remédios e também a homofobia de seus antigos amigos, como ilustrada pela forte cena no supermercado, que retrata a total transformação de Ron.

Essa evolução ocorre de uma maneira muito gradual e natural, não se tornando piegas em momento algum. Tudo isso devido ao grande trabalho dos estreantes Craig Borten e Melisa Wallack, que escreveram um roteiro consistente e estruturado, que constrói muito bem todos os personagens, dando-os profundidade e carisma, aumentando a imersão do espectador na obra.

Tudo isso corrobora a imagem de que Clube de Compra Dallas não é apenas um filme de atores. Claro que as atuações de Jared Leto e, principalmente, McConaughey são fantásticas (e que vão muito além da entrega física dos dois; a carga psicológica que cada um entrega ao seu personagem em cena é espantosa), mas isso não deveria ofuscar o bom trabalho do diretor (que também é o editor do filme) e dos roteiristas.

Em tempos em que a homossexualidade vem se tornando cada dia mais presente em nossas vidas, quebrando tabus e preconceitos, Valleé faz com o seu Clube de Compra Dallas um trabalho que merece destaque, mostrando que essa árdua luta vem de muito tempo atrás; e, pelo o que vemos hoje em dia, ainda está longe de terminar. Mas ainda há esperança. Afinal, se Woodroof mudou completamente, por que outras pessoas não podem também?

Nota: 7.5/10.0




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sábado, fevereiro 22

Sessão Curta+: O Sonho de um Homem Ridículo (1992)

Filme: O Sonho de um Homem Ridículo (Son Smeshnogo Cheloveka
Direção: Aleksandr Petrov
RoteiroFiódor Dostoiévski (conto)
Gênero: Drama, Animação
Origem: Rússia
Duração: 20 minutos
Sipnose: A personagem sabe-se ridícula desde a infância e já não tem mais nenhum interesse em continuar a viver. Num dia inútil como todos os outros, em que mais uma vez esperava ter encontrado o momento de se matar, é abordado por uma menina que clamava por ajuda. Ele não só recusa o apoio à criança, como a espanta aos berros. Ao voltar para casa, não consegue dar fim à sua existência. Adormece e sonha. Ele narra como conheceu a verdade em toda a sua glória e mostra como tudo aquilo deve ter sido real, pois as coisas terríveis que sucederam não poderiam ter sido engendradas num sonho.

Inspirado em um conto com o mesmo nome, do maior romancista russo, Fiódor Dostoévski.

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Filme:

sexta-feira, fevereiro 21

Crítica: Nebraska (2013)


Por Maurício Owada

"Alexander Payne trilha mais um caminho para
uma história de reconciliação familiar e pessoal"

Alexander Payne tem uma familiaridade com pessoas comuns, simples, geralmente não tão bem sucedidas em suas vidas pessoais e profissionais, que partem rumo a uma viagem comum que revelam de cada um algo a mais que se revelará durante a caminhada, ou seja, o filme foca mais na viagem do que no destino, apesar dela ter a sua relevância, ela nunca cumprirá sua expectativa aglomerado em seus personagens.

Nebraska (idem, 2013) é o primeiro filme dele que não tem sua mão no roteiro, nem por isso é menos brilhante e Bob Nelson se dá bem com os diálogos e situações. A história é sobre um típico velho rabugento chamado Woody Grant (numa brilhante e aclamada atuação de Bruce Dern) que recebeu uma carta dizendo que ele ganhou um milhão de dólares e que ele teria que pegar o prêmio na cidade de Lincoln, Nebraska. Com a insistência do velho em querer ir para lá, o filho David (Will Forte) decide levá-lo de carro com o intuito de passar mais tempo com o pai, com quem teve tão poucos momentos e acabam parando na cidade-natal de Woody, aonde encontram velhos amigos e parentes, em que alguns, após descobrirem sobre a "fortuna", rodeiam o velho como urubus, fazendo-o relembrar de antigas "ajudas" como recompensa.

Com um elenco incrível, contando com uma atuação divertida e sensacional de June Squibb como a esposa de Woody, Kate, que cuida arduamente do marido, xinga-o de inútil, relembra de antigos pretendentes que a perderam para Woody, mas ainda assim, demonstra um carinho enorme e que todo aquele jeito é apenas parte de sua personalidade, tirando as impressões de senhora meiga com sua aparência atarracada, cabelo curtinho e sotaque sulista bem forte. Já Bob Odenkirk (Saul Goodman, da série Breaking Bad) tem uma participação competente, mas não há um momento em que possa realmente brilhar. Já Stacy Keach vive o amigo traíra de Woody, com quem reencontra.

De ritmo lento e uma fotografia preto e branco (quem cai a calhar bem), jamais é uma experiência chata ou monótona, apesar de passar essa sensação em algumas cenas e o roteiro de Bob Nelson oscila entre o cômico, o deprimente e o terno e a direção de Alexander Payne aproveita estes momentos com competência, com o uso minimalista da trilha-sonora e planos simples, em enquadramentos que exploram um sentimento sem manipulação do som ou da câmera, que transcende aquilo a algo mais verdadeiro.

Agraciada pelo prêmio em Cannes, a atuação de Bruce Dern não só dita o desenvolvimento da história, mas pelos trejeitos e olhares melancólicos que apresentam mais do que um velho rabugento e seu Woody transpassa uma empatia que não tem como o expectador ignorar. Entre o comportamento ranzinza e uma certa ingenuidade, o Woody de Bruce Dern nos dita um personagem unicamente tridimensional que é a alma do filme e é de se reconhecer todas as indicações que recebeu.

Nebraska é simples, mas não simplista. A gama de emoções vai de atitudes e olhares vistas de forma sutil, não existe uma passionalidade em seus atos bondosos ou maldosos, como se elas fossem únicas e sim, que elas são comuns, assim como em qualquer ser humano e a estrada como o local de reconciliação ou de conflito com seus demônios é enfatizada pelo caminho que cada personagem trilha a cada asfalto queimado pelas borrachas dos pneus que os levam, seja para um prêmio de muitos dólares ou para uma aproximação entre pai e filho.

Nota: 8,5/10,0




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terça-feira, fevereiro 18

9 filmes selecionados: sobre as animações menos conhecidas do Studio Ghibli

Por Maurício Owada

Muitos conhecem o Studio Ghibli como um dos mais respeitados estúdios de animação do mundo, apesar de seus vários sucessos comerciais no Japão, além de serem cultuadas aqui fora, seu foco é mais na qualidade artística da obra e muitos filmes do mestre Hayao Miyazaki (um dos fundadores do estúdio junto com Isao Takahata) foram responsáveis por nos fazer conhecer algumas das animações mais lindas já feitos e uma delas foi o carro-chefe de seu sucesso no exterior, A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi), que levou o Urso de Ouro em Berlim e o Oscar de melhor animação.

Mas A Viagem de Chihiro pode ser visto como uma animação recente dentro da extensa filmografia do estúdio que conta com outros desenhistas, roteiristas e diretores em geral. Algumas delas são realmente fantásticas ou outras adotam uma abordagem mais realista do mundo, outras aprofundam na cultura japonesa, outras são adaptações de livros europeus, a certeza é de que sempre sairá um trabalho de grande qualidade que rende até homenagens da Pixar (o Totoro como um ursinho de pelúcia em Toy Story 3 ou a velha bruxa que lembra a de A Viagem de Chihiro).

Confiram a lista de alguns filmes menos conhecidos do grande público:

9. From Up on Poppy Hill (2011), de Goro Miyazaki 

8. Os Pequeninos (2010), de Hiromasa Yonebayashi

7. Eu Posso Ouvir o Oceano (1993), de Tomomi Mochizuki

6. Sussurros do Coração (1995), de Yoshifumi Kondo

5. Pom Poko (1994), de Isao Takahata

4. Only Yesterday (1991), de Isao Takahata

3. Porco Rosso - O Último Herói Romântico (2006), de Hayao Miyazaki

2. Meus Vizinhos, os Yamadas (1999), de Isao Takahata

1. Túmulo dos Vagalumes (1988), de Isao Takahata

segunda-feira, fevereiro 17

Crítica: A Grande Beleza (2013)


Por Maurício Owada

"A beleza da vida está aonde a gente, às vezes,
menos olha"

A primeira cena de A Grande Beleza (La Grande Bellezza) não faz parte da história, tampouco há uma conexão narrativa que é revelada mais tarde, mas mostra já a questão do olhar ao belo, aonde ele realmente está e para onde os outros preferem olhar, quando turistas japoneses passam reto, guiados por uma guia turística, a um grupo de mulheres que cantam em uma construção uma bela música e é claro que nós apreciamos a cena em si, até o momento em que um turista para e olha para algo além, mas a câmera engana e logo vemos ele olhando um monte de construções da capital italiana, Roma, e tira uma foto... minutos depois, ele cai morto sem motivo aparente. Seria spoiler, se fizesse parte da história, mas é importante de qualquer modo pois nos passa todo o conceito do filme e aonde o olhar das pessoas estão direcionadas quando procuram a beleza.

Jap Gambardella (Toni Servillo) é um jornalista que já outrora, foi um grande escritor e relembra de sua juventude perdida, passeando e refletindo entre as ruas de Roma, se regozijando de sua fama pelo livro O Aparelho Humano que lançou décadas atrás frequentando as festas luxuosas e glamourosas da alta sociedade. O passado retorna após descobrir que um antigo amor da juventude morrera e decide voltar a escrever.

Com uma forte influência do diretor Federico Fellini, seja pela estética ao retratar uma alta sociedade extravagante, quase caricatural em festas cheio de luzes e roupas esquisitas, além de uma vasta de gama de personagens interessantes, cada um com suas complexidades, como o próprio protagonista, que apresenta uma personalidade totalmente ácida, mas que tem seus momentos de sensibilidade e a cena na qual ele chora num velório após afirmar que é imoral chorar em um evento desses pois isso seria tentar roubar a cena da pessoa que estaria em luto. Essa busca boêmia pela grande beleza, aquilo que fosse a máxima do belo e do sensível, a paz tranquila ou o que for que seja é o que dá nome ao título, ao mesmo tempo em que reflete sobre a vida e isso lembra muito os devaneios de Guido Anselmi (Marcello Mastroianni) em Oito e Meio () sobre as pessoas ao seu redor e o seu passado que o moldou.

Como o filme acompanha a procura por algo que seja tido como a verdade absoluta, que retrata a inquietação do seu protagonista (ainda que ele não consiga dar o ponta-pé sobre qualquer coisa que queira escrever ou fazer artisticamente), ele demonstra em cenas particularmente críticas, a percepção de pessoas que se auto-consideram intelectuais, em sua maioria da alta sociedade cuja futilidade traz um vazio que procuram preencher em obras de arte pretensiosas ou estúpidas, como a pintura jorrada na tela por uma menina enraivada pelo fato de estar sendo obrigada pelos próprios pais a fazer o espetáculo que traz a ilusão a todos acompanhando aqueles ricos de roupa fina e pseudo-intelectuais como a pura arte e nem a Igreja Católica foge muito disso, enraizada na cultura italiana de forma extremamente profunda, principalmente pela base dela estar localizada em Roma desde a Idade Média, contando com um padre vaidoso que paga de filósofo e uma freira velha e debilitada (um tipo de Madre Tereza de Calcutá) que ainda usa as roupas de quando era menina.

No fim, Paolo Sorrentino demonstra que a grande beleza é subjetiva, se esconde nos lugares aonde a gente menos olha, não é óbvia e às vezes, intelectualizá-la nos prende em grandes bobagens e não é elitizada como muitos ainda acham ser e nem a elite é surpreendentemente inteligente e culta. Seja na arte ou na religião, o ser humano constantemente busca algo que alivie sua aflição perante a vida e a morte, o jovem e o velho, o vazio e o profundo, o resto é tudo blá blá blá...

10,0/10,0





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Notícia: Vencedores do BAFTA 2014

Ontem, foram divulgados os vencedores do BAFTA, o "Oscar britânico", concedido pela Academia Britânica de Artes da Televisão e do Cinema. A cerimônia foi apresentada por Stephen Fry e confira a lista dos vencedores:

Melhor filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor diretor: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor ator coadjuvante: Barkhad Abdi, por Capitão Phillips
Melhor atriz coadjuvante: Jennifer Lawrence, por Trapaça
Melhor filme britânico: Gravidade
Melhor filme britânico de estreia de um roteirista, diretor ou produtor: Kelly + Victor, de Kieran Evans (diretor/roteirista)
Melhor filme em língua não-inglesa: O Ato de Matar (Dinamarca)
Melhor longa animado: Frozen - Uma Aventura Congelante
Melhor documentário: O Ato de Matar
Melhor roteiro original: Alfonso e Jonás Cuarón, por Gravidade
Melhor roteiro adaptado: Steve Coogan, por Philomena
Melhor trilha sonora original: Steven Price, por Gravidade
Melhor fotografia: Emmanuel Lubezki, por Gravidade
Melhor edição: Dan Hanley e Mike Hill, por Rush - No Limite da Emoção
Melhor design de produção: Catherine Martin e Beverley Dunn, por O Grande Gatsby
Melhor figurino: Catherine Martin, por O Grande Gatsby
Melhor som: Glenn Freemantle, Skip Lievsay, Christopher Benstead, Niv Adiri e Chris Munro, por Gravidade
Melhores efeitos visuais: Tim Webber, Chris Lawrence, David Shirk, Neil Corboud e Nikki Penny, por Gravidade
Melhor maquiagem: Evelyne Noraz e Lori McCoy-Bell, por Trapaça
Melhor curta animado britânico: Sleeping with the Fishes, de James Walker, Sarah Woolner e Yousif Al-Khalifa
Melhor curta britânico: Room 8, de James W. Griffiths e Sophie Venner
Melhor atriz/ator em ascenção: Will Poulter

sexta-feira, fevereiro 14

Sessão Curta+: Maioria Oprimida (2010)


Filme: Maioria Oprimida (Majorité Opprimée
Direção: Eleonore Pourriat
RoteiroEleonore Pourriat
Gênero: Drama
Origem: França
Duração: 10 minutos
Sipnose: Um dia na vida de um homem que sofre constantemente com o sexismo num mundo dominado pelas mulheres.

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Filme:


quarta-feira, fevereiro 12

Crítica: O Ato de Matar (2012)



Por Maurício Owada

"A violência real/surreal"

Pouquíssimos filmes lidam com a maldade humana, às vezes, de forma tão intimista e impactante, seja nos documentários ou nas ficções. Países que passaram por processos de ditadura, seja militar ou comunista, com jornalistas e opositores políticos sendo censurados, perseguidos, torturados, humilhados e assassinados. A América Latina transitou por um período de anti-democracia e crimes contra a humanidade por ideologias políticas, assim como a Ásia se mantém em muitas ditaduras, as mais conhecidas são a da China e Coréia do Norte comunista, tudo fruto da Guerra Fria e a disputa entre a ideologia liberalista e capitalista dos Estados Unidos e o comunismo da União Soviética. Um dos países que teve sua estrutura política abalada foi a Indonésia, que após o golpe militar em 1965, teve milhões de pessoas acusadas de atividades comunistas sendo perseguidos e mortos, além de todo o resto que foi citado no começo deste parágrafo. Com o regime ainda intacto, antigos torturadores e assassinos andam livre e impunes até hoje num país oprimido por um governo autoritário e gângsters locais que abusam nas taxas de "proteção".

O documentarista estreante Joshua Oppenheimer acompanha a vida desses assassinos confessos que admitem e justificam suas ações no passado, com a certeza de que nada de mal lhes acontecerá. Acompanhando a rotina dessas pessoas e vida que levam, Oppenheimer age ali como uma mão neutra, mas não menos provocadora, levando em conta o propósito do diretor em desafiar os próprios genocidas a reencenarem seus atos em um filme, o argumento original serve pra destrinchar a natureza humana, focando na banalização da maldade e é em Anwar Congo, líder paramilitar da época reverenciado como herói nacional que executou milhares de pessoas, que o projeto se apoia, principalmente por ser o mais multifacetado de todos os genocidas e sendo aquele que fica a cargo da direção e protagonização da obra que retratará os seus atos "heróicos".

Um dos pontos mais interessantes do retrato de uma Indonésia desigual e oprimida é a influência de filmes americanos para os torturadores, muitos deles mafiosos locais que ganhavam dinheiro com os cinemas que exibiam sucessos comerciais hollywoodianos, não só nos gêneros que decidiam explorar numa filmagem, como nas próprias execuções e no jeito de se vestirem. Levando em conta que os próprios norte-americanos levavam adiante sua publicidade de melhor país do mundo, o american dream e o american way of life, ilusões de vida confortável e até mesmo ostentação que causavam grande furor em vários países e determinou certas políticas.

Através de um não-intervencionismo e uma permissividade incomum que chega a ser impactante devido as entrevistas e os momentos tensos como uma cobrança abusiva dos tais reis do local que constrange comerciantes chineses diante da câmera ou uma conversa descontraída e nostálgica sobre estuprar moças de vilarejos e a preferência deles de quais tipos de meninas gostam de violentar. É esse olhar que deve ter exigido um certo estômago e exige de nós também que retrata o absurdo de que até que ponto uma maldade é banalizada e justificada, certamente com argumentos convenientes e pouco consistentes.

O ponto alto e conflituoso é Anwar Congo (o "personagem" mais interessante do documentário) no papel de avô que pede para o neto não machucar o patinho e para pedir desculpas com o pretexto de quem foi sem querer e isso reflete de forma absurda em seu final, entre o temido genocida e o homem de família, essas duas facetas só nos mostram que ela está impregnada não só na Indonésia, mas também por todo canto, ainda mais quando justificamos hoje em dia massacres por um bem-estar de uma minoria privilegiada e sim, estou falando daqui também.

Nota: 10,0/10,0




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sábado, fevereiro 8

Sessão Curta+: Comida (1993)


Filme: Comida (Jidio
Direção: Jan Svankmajer
RoteiroJan Svankmajer
Gênero: Animação/Fantasia
Origem: Tchecoslováquia
Duração: 16 minutos
Sipnose: Tendo a comida como tema principal, o filme se desenvolve em três níveis diferentes (café da manhã, almoço e jantar), indo do pobre ao mais rico, mas sempre fazendo uma alegoria surrealista.

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Filme: