sexta-feira, setembro 12

Crítica: Os Guardiões da Galáxia (2014)


Por Maurício Owada

"Um filme que segue a velha fórmula dos filmes de aventura
com um roteiro inspirado e divertido"

O selo Marvel Studios vem acarretando cada vez mais surpresas no mundo da sétima arte, principalmente a parte que toca Hollywood, seus blockbusters e sua mania de buscar mais adaptações. Pra quem reclama das adaptações das histórias em quadrinhos ultimamente, já era de praxe o mercado cinematográfico americano buscar adaptações de livros de grandes autores, sejam americanos ou estrangeiros, indo para adaptações de séries de TV e desenhos animados. Não demoraria para a tecnologia dos efeitos visuais possibilitassem a realização de um filme baseado em quadrinhos, desde Superman - O Filme (Superman, 1978), demorou anos para que uma linguagem básica aceitável dentro dos parâmetros do público e da crítica fosse estabelecida e ainda que Christopher Nolan tenha dado a Trilogia de Batman uma abordagem densa e dramática, foi a Marvel Studios que investiu em personagens próprios de modo diferenciado para levar seu universo até então, fadado às páginas desenhadas em pequenos quadros sequenciais, para as grandes telas e o primeiro filme foi o carro-chefe para seu sucesso: Homem de Ferro. Com alguns filmes ruins e bons, diante de uma irregularidade para a preparação do filme-evento Os Vingadores - The Avengers, a Marvel foi propondo novos elementos em seu universo, como outras dimensões, temas políticos e conspiratórios, aos poucos ele anunciou seu filme de maior risco: Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy). Conhecidos mais pelos fãs ávidos de quadrinhos, o grupo reúne uma gama de personagens politicamente incorretos e carismáticos, que buscam salvar a galáxia de ameaças espaciais.

Mas o que mais chamava atenção era uma abordagem dos anos 80 através da trilha-sonora que tinha diversos hits do rock e da música pop dos anos 70 e 80, intitulada Awesome Mix, Vol. 1 (clique para ouvir), que se tornou um dos discos mais populares. Esse apelo popular, juntamente com a dinâmica dos personagens que lembravam bastante Star Wars, principalmente Rocket Raccoon (voz de Bradley Cooper) e Groot (voz de Vin Diesel) que remetem a Han Solo e Chewbacca, que criou um apelo publicitário para fãs de cinema e cultura pop em geral e Os Guardiões da Galáxia é exatamente o que prometera ser: uma aventura diferente, no espaço, com cinco personagens que não carregam nenhum super-heroísmo e motivações que carregam muito bem a trama. Reunidos acidentalmente, ao surgir conflito de interesses e todos acabam presos, todos escapam da prisão e logo descobrem que o objeto que possuem pode cair nas mãos erradas, especificamente de Ronan (Lee Pace), um déspota e genocida Kree, que quebra o tratado de paz com o planeta Xandar e quer destruir todos os seus inimigos.

Apostando em uma bagagem cultural pop, o filme acerta em cheio em incluí-las além da mera referência, utilizando para enriquecer o texto, com diálogos inspirados e divertidíssimos entre o grupo, que sempre se atrita. A sintonia entre os atores é algo a se destacar e levando em conta que há cinco atores (dois deles fazendo dublagem de personagens em CG), o filme não "puxa a sardinha" nem pra um e nem pra outro, todos tem seu tempo equilibrado e Chris Pratt brilha no papel de Peter Quill, Zoe Saldana e Dave Bautista dão o carisma certo para seus personagens sisudos, o trabalho de animação e a voz de Diesel dá toda a 'fofura' a Groot e Bradley Cooper está em seu melhor papel, num excelente e sutil trabalho de voz. Além de ressaltar a presença ilustre de atores como Glenn Close, John C. Reilly, Djimon Hounsou, Benicio Del Toro e Josh Brolin despontando como Thanos, uma ameaça futura. James Gunn trás ao universo Marvel uma irreverência que faltava, que torna este com um senso de humor mais refinado dos seus demais, tendo um time incrível entre os atores, mostrando que não é necessário pontos específico de alívios cômicos para tornar o filme leve e sim, integrá-lo em sua plenitude e esse é o acerto do filme, que investe em uma aventura simples, seguindo a estrutura de desenvolver personagens em momentos chaves da trama, como os antigos bons filmes escritos com pureza por John Hughes.

Outro grande mérito de Guardiões da Galáxia é não se preocupar muito com o restante do universo Marvel e não busca quase nenhuma conexão com os filmes anteriores, imergindo o espectador numa deliciosa narrativa e a fotografia que foge do rótulo do estúdio, além da inspirada direção de arte que dá vida aos diversos planetas e estações espaciais. Porém, o único pecado do filme é não utilizar o acervo de baladas populares setentistas e oitentistas para uma composição mais interessante das cenas e em alguns momentos, belas canções ficam apenas como enfeite, sem um uso mais criativo na linguagem, mesmo que diegeticamente, ela seja da fita-cassete que o protagonista carrega para todos os lados.

Guardiões da Galáxia é a maior surpresa da Marvel Studios, uma aposta arriscada, mas certeira, em uma história, personagens e universo distintos do que fora visto até então e espirituosos na medida certa, abrindo um leque de opções para a expansão do universo dos quadrinhos para a Marvel.

Nota: 8,5/10,0




Trailer: