sexta-feira, outubro 31

Sessão Curta+: Meu Amigo Nietzche (2012)

Filme: Meu Amigo Nietzsche
Direção: Fáuston da Silva
Roteiro: Fáuston da Silva
Gênero: Drama e comédia
Origem: Brasil
Duração: 15 minutos
Sipnose: Nietzche foi um filósofo alemão do século XIX. Lucas é um estudante brasileiro do século XXI. O improvável encontro entre os dois será o começo de uma violenta revolução dentro da mente de um garoto, de uma família e de uma sociedade.
Ao final ele não será um menino, será uma dinamite!

*Dica: aperta no item da lateral do vídeo para expandir a imagem.

Filme:

quinta-feira, outubro 23

Crítica: O Lobo Atrás da Porta (2014)

Por Maurício Owada
 
"O horror cotidiano e banalizado em nossa sociedade"

Manchetes de jornais, notícias do dia-a-dia, o horror diário, as atrocidades banalizadas, a violência espetacularizada. Não é bem nesse tom que O Lobo Atrás da Porta imprime um ato horrendo que, hora ou outra, por motivos banais, surgem na tela da TV, embaladas pelas vozes de jornalistas sensacionalistas como um circo de horrores, aonde o principal foco é deixar o público enfurecido, assustado, indignado etc. Fernando Coimbra passa em tela alguns dos aspectos da sociedade que podemos caracterizar como doença, nisso se pode inserir diversos aspectos que saltam aos olhos do espectador de forma sutil, mesmo diante de uma história baseada em fatos, no caso, a Fera da Penha.

Atualizado para os dias de hoje, o filme reconstrói as ações de todas as personagens para entender o sumiço de uma garotinha, após ser buscada na creche por uma mulher estranha. Pouco a pouco, a trama se revela e apesar de ancorar no tom duro do seu final que remete um pouco ao cinema de Michael Haneke, o diretor e roteirista vai desenvolvendo o drama e em seu clímax, uma tensão que descamba para o horror final. O choque! Aquilo que lhe faz por a mão na boca, estarrecido, com os olhos arregalados... e não estamos falando de um filme de terror.

Problemas familiares, machismo e a representação do trem urbano como ponto de encontro entre Bernardo (Milhem Cortaz) e Rosa (Leandra Leal), um símbolo de casualidade, que chega cheio de atrações e perigos imprevisíveis, uma representação do escape cotidiano com os deveres do casamento, isso é impresso com uma segurança do diretor e uma câmera que se distancia ou se aproxima devagar de seus personagens, que concentra o drama em seus atores, mas com um olhar analítico. Oras, Coimbra utiliza dos personagens em primeiro plano, enquanto uma ação acontece ao fundo, fora de foco, pra remeter a sensação de distanciamento, solidão ou apatia.

Não só basta contar uma história do cotidiano, senão tiver diálogos primorosos e os do cineasta, beira a uma naturalidade absurda que parece improviso dos atores, além de uma estrutura narrativa sólida, que dá base para os atores construírem bem as situações. Se Milhem Cortaz e Fabíula Nascimento fazem um ótimo trabalho, como sempre em diversos filmes, Leandra Leal rouba a cena e as nuances exigidas para as suas transformações, decorrentes da instabilidade mental de sua personagem, são postas em prática de forma magnífica, ressaltando a beleza de seu olhar ou simplesmente, o puro ódio e rancor.

O Lobo Atrás da Porta demonstra uma capacidade enorme do cinema brasileiro para o cinema de gênero, apresenta um novo cineasta que promete muito ainda e repassa na tela, não a realidade das favelas, do sertão, como de princípio, se construiu o nosso cinema, mas a realidade nem tão sofrida, mas pouco poética dos subúrbios, dos simples eventos de paixões casuais, transas inconsequentes e famílias destruturadas que terminam de forma pouco empática e fatalista. Fernando Coimbra mostra tudo isso sem muito drama, sem julgamentos, sem espetacularização, sem discurso nenhum... só mostra e ainda assim, nos incomoda. E não somos postos a julgar.

Nota: 9,0/10,0



Trailer:

terça-feira, outubro 21

Crítica: Garota Exemplar (2014)


Por Maurício Owada

"O casamento enquanto instituição falida"

David Fincher sempre se destacou pelo seu estilo de direção, cujos atores revelam bastante dos seus personagens, mas com uma câmera sempre distante, fria e é esse olhar analítico que sempre deu um destaque no estilo do cineasta, que sempre exala um tom autoral, mesmo que seja um diretor contratado para os projetos. Apesar de sua marca, Fincher é um diretor que tenta se renovar, mesmo que falho, O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2008) foi uma bem-vinda tentativa de Fincher se desvincular apenas aos filmes mais sombrios, além do próprio Zodíaco (Zodiac, 2006), que apesar de pouco conhecido, é sua melhor obra, na qual a construção narrativa é mais devagar e foge do ritmo videoclipe de seus filmes anteriores. Após a volta com seu estilo de direção mais ritmica em A Rede Social (The Social Network, 2010), Fincher foi aprendendo a dar mais dimensão para a história ao conciliar duas linhas temporais do filme que se completam - a trajetória biográfica de Zuckerberg e o segmento de tribunal - graças ao texto excelente de Aaron Sorkin e voltou ao seu estilo sombrio em Millenium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (The Girl with a Dragon Tattoo, 2011). Seu novo filme, ainda que não seja uma novidade no cinema americano em seus aspectos, eles são tão bem conduzidos e trás algo de fresco, ainda que traga alguns temas que o cineasta já explorou anteriormente.

Garota Exemplar ou Gone Girl, ambos títulos bem colocados para a obra, conta a história de Nick Dunne (Ben Affleck), que no quinto aniversário de casamento, vê sua mulher desaparecida e devido a fama dela trago pela coleção de livros inspirado em sua persona, escrito pelos pai dela, Nick se vê diante do mistério do desaparecimento de sua mulher, os segredos que vêm a tona e a espetacularização da mídia acerca do caso. Com roteiro da própria autora, o filme cria camadas e expõe com acidez a superficialidade dos personagens, assim como em A Rede Social, dando tridimensionalidade aos seus personagens, ao mesmo tempo que cria um clima de mistério, graças a uma impecável direção, que sabe trabalhar muito bem com seus atores, principalmente Ben Affleck, que consegue dar uma tonalidade interessante ao seu personagem e sua característica tida como defeito, que é a inexpressividade, causa uma dubiedade que apenas contribui para a sua atuação. Mas quem rouba toda a cena, com sua presença hipnótica e fantasmagórica é Rosamund Pike, que provavelmente terá espaço entre as premiações desta temporada, rica em nuances que se desenvolvem durante o longa.

Com um aspecto técnico bem trabalhado, a trilha-sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, que vai acentuando o tom do filme conforme ele se desenvolve, explorando novas notas conforme a história se revela, além da edição, que apesar de "gordurosa", carrega bem toda a construção do filme, além da competente fotografia, que trás tonalidades mais frias.

Mas uma das coisas que mais chama atenção é sobre o assunto que é discutido no longa: o casamento. Mostrado como uma instituição falida, assim como o é, hoje em dia, através de uma estória de mistério, Gilliam Flyn expõe em seu texto, toda a superficialidade de um aparente casamento feliz e a manipulação das caras-e-bocas, inserindo também o elemento da imprensa televisiva, que se alimenta de rumores para aumentar o espetáculo diante da situação, expondo uma sociedade que mantém seus valores através de conceitos frágeis e fúteis, disfarçado por máscaras que maquiam algo mais sinistro e profundo.

David Fincher trás mais uma grande obra, ainda que não chegue ao primor de Zodíaco e A Rede Social, ou ao refresco de novidade de Clube da Luta (Fight Club, 1999), Garota Exemplar é uma obra exemplar que sabe trabalhar bem com seus elementos, seu personagens e ainda, nos trás uma crítica mordaz aos parâmetros da sociedade em relação ao casamento e de como as aparências enganam.

Nota: 8,0/10,0



Trailer: