terça-feira, janeiro 6

Crítica: Meu Amigo Totoro (1988)


Por Maurício Owada

"Miyazaki trás nesta animação todo o espírito
do olhar infantil perante o mundo"

A fantasia é um elemento sempre presente na nossa infância, seja no que lemos, assistimos ou brincamos. Quando somos criança, somos estimulados por uma imaginação que visa cada objeto como um elemento fantástico de um cenário projetado na nossa mente. Um graveto vira uma espada, um pano de cortina vira uma capa etc.

A historia é sobre duas irmãs que vivem no campo com o pai, enquanto a mãe está no hospital tratando de um câncer, o que faz com que elas a vejam poucas vezes. Um dia, a irmã mais nova encontra no quintal, uma pequena criatura que a leva uma toca, se encontrando com uma outra criatura, maior e de uma simpatia de tamanho semelhante, chamado Totoro. Através dele, as duas meninas embarcarão numa aventura contagiante, em meio a conflitos familiares.

Apesar do tom escapista, Hayao Miyazaki jamais permite que a realidade soe trágica, pois ele encara a doença e todos os males que assolam nossos entes queridos como uma parte do processo natural da vida, de sofrermos pela dor do próximo, principalmente um ente tão querido. Mesmo todo o drama que a irmã mais velha passa por ter a consciência que pode não ver sua mãe novamente, o cineasta não pesa a mão num sentimentalismo barato e aquela leveza não se torna um amenizador daquilo que ocorre na tela, mas serve para que as crianças se identifiquem com aquelas meninas, que possuem energia ainda para brincar e sonhar.

O que sempre chamou atenção não só na obra de Miyazaki, mas no cinema japonês como um todo é o elemento humanista sempre presente. Não importa exatamente os conceitos padrões da sociedade, assim como no cinema de Akira Kurosawa (o ser humano em meio ao ambiente social) e Takeshi Kitano (o indivíduo que reage ao imprevisível), Miyazaki retrata suas protagonistas (na maior parte, meninas e mulheres) diante de fenômenos e eventos turbulentos e a força que encontra em tempos de provação e jamais largam de seus valores, isso enaltece bastante uma certa posição política de Miyazaki, que toma forma de um pensamento que preza a plenitude da alma humana, que encontra capacidades de evoluir espiritualmente e vemos como suas protagonistas servem de exemplo. No caso de Mei e Satsuki, é jamais deixar de lado a esperança e a alegria, sendo ela não como um escapismo, mas uma base para que nós sempre nos mantenhamos em pé e se isso soa clichê neste texo, é porque o filme jamais precise expressar em palavras um conceito tão simples, cercando de forma certeira nesta simplicidade que tem muito a nos ensinar.

Totoro não é apenas uma criatura simpática e meiga, mas um resquício daquilo que navega no nosso coração. Uma inocência (não é ingenuidade) que encanta, um brilho de ternura que nós criamos para nos acompanhar em empreitadas espinhosas e muitas vezes, tempestuosas, quando simplesmente as gotas de chuva não incomodam quem não tem medo de se molhar.

Nota: 9,5/10,0




Trailer:

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