sábado, junho 20

Crítica: Corrente do Mal (2014)


Por Kaio Feliphe

"Bom exemplo de como se fazer terror."

Infelizmente, o cinema de terror norte-americano (principalmente o mainstream) dos últimos anos se tornou um cinema comum, monótono. Os filmes lançados sempre têm a sua oferta de terror baseada em sustos baratos e previsíveis. Não se cria um clima de tensão, uma atmosfera que deixa o espectador apreensivo; os diretores sempre apelam para jump scares que não assustam mais ninguém.

Só que de vez em quando aparece um filme como Corrente do Mal [It Follows, 2014], que fundamenta seu terror na atmosfera. Atmosfera essa que é bem semelhante aos clássicos setentistas e oitentistas do gênero, como Halloween – A Noite do Terror [Halloween, 1978] e A Hora do Pesadelo [A Nightmare on Elm Street, 1984]. O subúrbio de uma cidade grande, um grupo de adolescentes, a câmera voyeurística passeando pela vizinhança e a trilha-sonora (maravilhosa, por sinal) que contribui na criação do clima.

David Robert Mitchell, diretor do longa, cria seu filme a partir de uma premissa interessante. Uma entidade paranormal te persegue e, para se livrar dela, precisa transmitir sua maldição para outra pessoa, transando com ela. Muito se fala de que essa premissa é uma alegoria às DST (doenças sexualmente transmissíveis). Pode até fazer sentido, mas não é a ideia central. O sexo é um elemento clássico do cinema de horror. A imagem do ato carnal é parte intrínseca da estética do gênero, tanto que grandes momentos do terror são cercados pelo sexo, como em O Bebê de Rosemary [Rosemary's Baby, 1968] e A Morte do Demônio [Evil Dead, 1981], por exemplo.

Mas diferente de outros filmes, Corrente do Mal não se dedica ao visual, à imagem. Nem do sexo e nem das mortes. O que interessa é o resto, o que leva a tais circunstâncias. A fuga da maldição e a relação que se cria entre os personagens. Aliás, é bem interessante a interação entre os personagens durante todo o filme. Parece que Detroit é uma cidade fantasma que tem apenas os amigos como habitantes. Isso fortalece o clima onírico que o filme apresenta.

O horror propriamente dito da obra é muito bem construído. A grande ameaça é um ser que te persegue para sempre e apenas caminha, lentamente. Imagina, estar em qualquer lugar do planeta e mesmo assim saber que tem algo que, vagarosamente, caminha em sua direção para te matar. E aliado a isso, você, o amaldiçoado, é o único que pode ver a tal criatura. É uma ideia bastante aterrorizante e bem aproveitada por Mitchell. Por exemplo, o grande momento do filme é a cena na praia, onde os cinco amigos estão sentados e, nas costas da personagem principal, aparece alguém caminhando no horizonte em direção a ela. Como nenhum dos outros podem enxergar a criatura, o espectador é o único que vê e sabe que o perigo se aproxima. Esse momento hitchcockiano de usar o espectador como testemunha dos eventos do filme é um achado, uma das melhores cenas do gênero dos últimos anos.

Porém, a narrativa do filme talvez seja o seu ponto negativo. Mitchell trabalha o longa sem um clímax, um pico de adrenalina e tensão no espectador. O diretor tenta criar um ritmo constante de tensão, sem grandes variações. O problema é que não se consegue instituir esse clima contínuo. A cadência do filme é um pouco irregular, principalmente no segundo ato, onde há um flerte com o road movie.

O final de Corrente do Mal pode ser visto também como um esboço da vida sexual de um jovem. É muito fácil se identificar com Paul. O moço tímido que é apaixonado por Jay e que chega ao ponto de arriscar a ser morto por um fantasma só para ter um momento amoroso com ela. Uma bela analogia sobre o quão aterrorizante o sexo pode ser para um adolescente.

Corrente do Mal é um pequeno diferencial no marasmo do terror americano. No meio de remakes e filmes pouco originais, o novo trabalho de David Robert Mitchell leva o espectador ao verdadeiro terror. O terror atmosférico, onde todos os elementos fílmicos contribuem para a construção climática. E é esse terror que realmente deixa o espectador envolvido. Será que vão demorar pra aprender isso?

Nota: 7.5/10.0




Trailer:


10 comentários:

  1. Muitos vão estranhar a falta de explicações mais concretas, mas 'It Follows' é um excelente exercício de estilo.

    http://filme-do-dia.blogspot.com.br/

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  2. O que acho mais interessante nesse filme, Kaio, é o quanto as pessoas conseguem ver diferentes significados nele e todos provavelmente estão certos. Paul foi um personagem que valeu um parágrafo na sua crítica e para mim passou praticamente desapercebido (para mim, ele é, inclusive, um ponto negativo do filme).
    Foco minha crítica justamente nessa questão "aberta" da narrativa de trabalhar os símbolos e as analogias e acabar sendo mais interessante depois de terminada a sessão do que durante.
    http://www.criticaemserie.blogspot.com.br/2015/07/corrente-do-mal.html

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  3. O estranho é que há sites com lançamento em 2014 sendo que fui no cinema esses dias e tá como lançamento 27/08/15

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    1. Clarissa, o filme foi lançado no Festival de Cannes de 2014. No Brasil, sua estreia vem sendo adiada a algum tempo.

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  4. Vi o trailler dele esse fds nos cinemas e soube que já tinha ele pra download via torrent.

    Muito bom por se tratar de um terror diferente dos enlatados americanos.

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  5. Vi o trailler dele esse fds nos cinemas e soube que já tinha ele pra download via torrent.

    Muito bom por se tratar de um terror diferente dos enlatados americanos.

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  6. Vi o trailler dele esse fds nos cinemas e soube que já tinha ele pra download via torrent.

    Muito bom por se tratar de um terror diferente dos enlatados americanos.

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  7. Sinceramente não vi nd demais nesse tão clamando filme de terror de "2015" muito parado, cenas cortadas sem explicação e um fim digno de cinema brasileiro. Para mim ridículo, esperava por muito mais, Sobrenatural dá de 10 nesta comédia "aterrorizante"

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  8. Sinceramente não vi nd demais nesse tão clamando filme de terror de "2015" muito parado, cenas cortadas sem explicação e um fim digno de cinema brasileiro. Para mim ridículo, esperava por muito mais, Sobrenatural dá de 10 nesta comédia "aterrorizante"

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